quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Mudança de nomes é a nova moda entre os partidos políticos


Desgaste com eleitores e enfraquecimento das legendas têm levado à escolha de novas nomenclaturas




O desgaste político e partidário pelo qual tem passado lideranças políticas brasileiras tem feito com que muitos partidos troquem de nomes. O mais novo a cogitar tal mudança é o poderoso PMDB do presidente da República, Michel Temer. Em uma convenção marcada para o próximo dia 27 de setembro, a sigla quer extinguir o “P” de sua marca, retornando a MBD (Movimento Democrático Brasileiro), sigla que vigorou de 1966 a 1979.

Segundo o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), há a necessidade de uma mudança de nome para modernizar o partido. De acordo com ele, é um resgate da memória. E uma forma de eliminar o último resquício da ditadura militar, que exigiu a inclusão do “P”. 

Partidos e nomes

A mudança não é uma exclusividade do PMDB. Outro grande que mudou de nome foi o antigo PFL (Partido da Frente Liberal), passou a chamar-se, em 2007, DEM (Democratas). O PFL teve como cacique, por longo tempo, o baiano Antônio Carlos Magalhães. Durante os mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o vice-presidente era do PFL, Marco Maciel. Com a eleição de Lula, em 2002, e a reeleição, em 2006, o PFL desgastou-se e enfraqueceu-se e, então, trocou o nome. Agora, o DEM avalia uma possível nova mudança de nome, justamente para Mude.

Sopa de letrinhas

Com 35 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a maioria utilizando siglas iniciadas com a letra “P”. Mas essa sopa de letrinhas, no entanto, tem passado por uma transformação. Há legendas que têm optado por nomes corridos, e não siglas. Os mais famosos criados recentemente foram a Rede, de Marina Silva; e o Novo, que filiou o ex-técnico da seleção brasileira de vôlei Bernadinho e namora com o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, o mesmo que denunciou o também ex-ministro Gedel Vieira Lima.

Em 2013, já com a ideia de mudar nomeclaturas, surgiram o Solidariedade (SD), do líder sindical e deputado federal Paulinho da Força; e o PROS (Partido Republicano da Ordem Social).

Há também o Podemos, antigo PTN (Partido Trabalhista Nacional), que agora tenta ganhar notoriedade com a filiação do senador paranaense Alvaro Dias. Já o PSL (Partido Social Liberal) faz migração para Livres, e teve como grande destaque em um evento de lançamento no Rio de Janeiro o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco palestrando.

O Partido Trabalhista do Brasil (PT do B) também mudou, passando a Avante. E o PEN (Partido Ecológico Nacional) cogitou ser renomeado de Ecológicos, mas está pensando mais em usar Patriotas.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

O distritão e a destruição da participação popular

Por Cézar Britto, em Carta Capital

A reforma política não é panaceia, tampouco a solução final para a cura dos males sofridos pela população. Mas ela é, sobretudo, ponto de partida para a restauração da confiança popular na classe política, desde que feita em profundidade, sob a supervisão da sociedade civil e levando em conta sua natureza plural.

Somente assim poderia conferir respeitabilidade ao processo legislativo e aos próprios legisladores que pretendem a sua aprovação.

Cuidar de esmiuçar o projeto de reforma política e a forma em que o sufrágio nele será exercido, exige o compromisso de fazer refletir no debate o querer do proprietário originário e destinatário final do processo eleitoral. Não sendo observadas estas premissas, tudo não passará de mero remendo eleitoreiro. 

A reforma política, neste caso, deveria servir de importante instrumento na reinterpretação permanente da legislação eleitoral, adequando-a às novas e crescentes demandas sociais.

A sua virtude estaria, assim, na possibilidade de se contribuir para a modernização da própria política e, continuamente, ajudar a revogar o velho patrimonialismo brasileiro.

Por isso mesmo, devemos, diuturnamente, apontar propostas que concebam um sistema que minore as mazelas do atual quadro partidário, pois, não obstante sua pluralidade formal, o parlamento brasileiro enfrenta a maior crise de representatividade de sua história.

Eis que, repentinamente, surge como “proposta salvadora” para a crise política a possibilidade da perpetuação dos mandatos dos atuais parlamentares e, como complemento, a explosão das bases que fundaram os partidos políticos.

A “proposta miraculosa”, denominada distritão,transforma em majoritárias as eleições proporcionais para deputados federais, deputados estaduais e vereadores.

A ideia é revogar a histórica fórmula republicana adotada em sistemas bicamerais, onde apenas os senadores são eleitos em razão do somatório dos votos recebidos de forma individualizada.

Aprovado voto majoritário para todos os parlamentares, eleitos seriam aqueles que controlam a máquina partidária, os mais conhecidos eleitoralmente, os aquinhoados com a fortuna material ou, como já comum, os que reúnem os três requisitos de desequilíbrio eleitoral.

E como serão eleitos de forma individualizada, autônoma e desvinculada do compromisso partidário, sequer serão obrigados à lealdade, aos princípios do partido político que agasalhou cada candidato, como decidiu o STF quando do julgamento da ADI 5081.

É evidente que não se podem tornar os partidos políticos fortes e autênticos por via de lei ou de decisões judiciais – e isso ficou amplamente demonstrado no curso do regime militar, que quis engessar em duas siglas, Arena e MDB, toda a diversidade de pensamento da sociedade brasileira, o que empobreceu ou mesmo inviabilizou o debate de ideias. 

Mas é realmente preciso que a cidadania se reconheça nos partidos, saiba quais estão mais próximos de seu ideário, independentemente da circunstância de quem é governo ou oposição. 

É preciso, também, que o eleitor confie no eleito; que saiba que elegeu pessoa comprometida com determinadas ideias e propósitos e que não irá traí-lo.

E mais: que, se o fizer, irá responder pela traição ao compromisso. E nada disso é possível quando se valida a individualização do mandato ou o vaivém de políticos e siglas desorientando o eleitor, decepcionando-o. 

A experiência democrática nos ensina a entender que o processo eleitoral é atividade primordial ao exercício da soberania popular. Exatamente por isso não contribui para o aprimoramento da representação política uma regra em que o mandato tem como dono um indivíduo apenas compromissado com os seus próprios interesses pessoais.

Esta fórmula revoga o conceito de representação coletiva, favorece o fisiologismo e aprofunda o descrédito da sociedade no regime representativo. Daí a importância de se reconhecer que a democracia é plural e que necessita, por isso mesmo, de partidos políticos fortes e comprometidos com a vontade das urnas. 

Efetivamente, o povo exerce a sua soberania através do voto ou, em outras palavras, o voto é a própria voz republicana do povo. É ele o soberano e, como tal, não pode estar – como tem absurdamente estado ao longo de toda a nossa história – ausente do processo que, em suma, decide e define o seu destino.

O individualismo consagrado na proposta do distritão tem como aliado o poderoso exército dos patrimonialistas que sempre impuseram ao País um sistema de exclusão.

O parlamento precisa pensar mais nas próximas gerações do que, casuisticamente, nas próximas eleições. Sobretudo neste momento histórico, de necessária retomada da democracia, que Otávio Mangabeira comparava a uma “plantinha frágil e tenra”, a exigir cuidados permanentes e olhos vigilantes.


*Cezar Britto é advogado e escritor, autor de livros jurídicos, romances e crônicas. Foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil e da União dos Advogados da Língua Portuguesa. É membro vitalício do Conselho Federal da OAB e da Academia Sergipana de Letras Jurídicas.

Nem mesmo a Jordânia suportou os problemas do Distritão

Carta Capital por Alexandre Basílio


Dando continuidade com a celeuma sobre o famigerado Distritão, ou, mais tecnicamente dizendo, o Sistema Eleitoral de Voto Único e Intransferível, para entender melhor a mecânica por trás do método, busquei pelos resultados das últimas eleições nos países que o utilizaram, pois, de fato, os manuais de Ciência Política não conseguem acompanhar as reformas eleitorais de democracias incipientes, ou no nosso caso, talvez insipiente mesmo.

Descobri que não é correto dizer que a Jordânia utiliza o sistema Distritão, fato alardeado por muitos especialistas na mídia e pelos artigos científicos recentemente publicados. Vamos aos detalhes.

Em 1957, o rei da Jordânia (sim, a Jordânia é uma monarquia na qual o Rei tem amplos poderes legislativos e executivos) decretou lei marcial. 

O país ficou sem eleições até 1989, quando os partidos puderam voltar a existir. Logo na primeira eleição (por meio do voto em bloco, sistema eleitoral inglês do pós-guerra), o partido islâmico ganhou 20 das 80 cadeiras.

O rei, insatisfeito com esse resultado e buscando reduzir o poder dos partidos, alterou o sistema eleitoral em 1993 para um sistema chamado por eles de (al sawt al-wahid), em bom português algo como “um homem, um voto”, mas que a matemática leva a concluir que seja o tal Distritão. 

Feito isso, inúmeros boicotes ocorreram em todas as eleições entre 1993 a 2015 e várias foram as modificações eleitorais, inclusive o retorno do sistema de 1989 para o pleito de 2013.

Influenciado pelo levante popular – primavera árabe -, o rei buscou desde 2011 melhorar o sistema eleitoral e garantir maior representatividade, tendo em vista que o Distritão concentrava poder nas mãos de poucos e era uma das razões de constantes revoltas. 

Ademais, embora o país registrasse 58% de eleitores do sexo feminino, por meio do Distritão, nunca eram eleitas mulheres, nem tampouco as minorias cristãs e de outros grupos tribais minoritários.

Assim, visando reduzir as manifestações e melhorar a proporcionalidade do sistema, a partir de 2013, o rei Abdullah II alterou a forma de conversão de votos em cadeiras para a Câmara dos Deputados. 

Criou 15 cadeiras exclusivas para as mulheres, 9 para cristãos e outras cadeiras preferenciais para grupos religiosos minoritários. Além disso, das 130 cadeiras, 27 passaram obrigatoriamente a ser eleitas por meio do sistema proporcional (quota hare), podendo as mulheres concorrer no grupo geral, ou no grupo de cadeiras reservadas, ao mesmo tempo.

Em 2016, houve nova reforma eleitoral visando as eleições daquele ano.Buscando ainda superar a reduzida representatividade das minorias gerada pelo sistema Distritão, Abdulla II abandonou de vez o método majoritário e criou um sistema de candidaturas por meio de listas, no qual é possível o uso de 3 sistemas eleitorais diferentes, utilizados em ao menos 8 dos 23 distritos. 

Nos demais distritos, usa-se um sistema proporcional de listas abertas com voto múltiplo e, ainda, o sistema “best-loser” para as mulheres (a mulher não eleita mas que tenha alcançado a melhor votação leva a vaga em razão do assento preferencial).

Com isso, nas eleições de 2016, 20 mulheres foram eleitas, 5 além das cadeiras reservadas para elas. O partido islâmico conseguiu boa representatividade e arrefeceu sua insatisfação. O país ainda enfrenta sérios problemas políticos. 

Embora tenha melhorado a classificação do seu nível de democracia de “authoritarian” para “partly free”, a Câmara Alta e o primeiro-ministro continuam sendo indicados pelo rei, não havendo eleições para Senadores. Por isso, não sabemos quando será a próxima vez que o rei dissolverá o congresso e determinará novas regras.


Por ora, se o Brasil vier a adotar o Sistema “Distritão puro”, estará alguns anos atrás até mesmo da Jordânia, que agora utiliza sistema proporcional para suas eleições parlamentares.

Como comparação entre os países que ainda usam o sistema de voto único não transferível, temos o Afeganistão, um país que vive um sistema ditatorial e ainda sofre com as ameças do Talibã sobre o eleitorado, que pune vilarejos do interior do país com a perda de um dedo da mão caso sejam encontrados com a marca da tinta indelével usada nas eleições. 

Segundo aFreedom House, a democracia afegã recebeu nota média de 2,55 pontos, em razão do baixo pluralismo político de seu processo eleitoral.

Temos ainda as Pitcairn Islands (um amontoado de rochas perdidas na imensidão do pacífico) que atualmente tem 56 habitantes, Vanuatu, com 200 mil habitantes e o Kuwait, uma monarquia constitucional semi-democrática que na prática vive um autoritarismo do Emir Sabah Al-Sabah, cuja família mantém o controle do país desde 1752 por meio da dinastia Al-Sabah.

Em conclusão, o Brasil parte para um sistema utilizado apenas em países autoritários ou incompatíveis em dimensão com uma das sete maiores economias do mundo, cuja pontuação no índice democrático alcança 6,90 pontos, limitado a evoluir apenas em razão da baixa cultura política do seu povo, cultura essa que foi pontuada em 3,75 pelo Democracy Index, mesma nota alcançada por países como Nigéria, República do Congo e Gabão.





Alexandre Basílio é palestrante, professor de Direito Eleitoral e Analista Judiciário da Justiça Eleitoral do Rio Grande do Sul.


Estudo mostra que 4 milhões de brasileiros voltaram à pobreza

Dados apontam ainda queda na renda per capita da população

Agência ANSA




Faixa de pobreza concentra "pessoas com renda domiciliar per capita inferior a um quarto de salário



Pouco mais de 4,1 milhões de brasileiros entraram na faixa de pobreza no país em 2015, sendo que 1,4 milhão deles voltaram para a extrema pobreza no mesmo ano, informou o relatório "Radar IDHM 2015" nesta segunda-feira (14).

O relatório foi elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pela Fundação João Pinheiro divulgado.

De acordo com o estudo, a faixa de pobreza concentra "pessoas com renda domiciliar per capita inferior a um quarto de salário mínimo, de agosto de 2010". Já na extrema pobreza estão as pessoas com "renda domiciliar per capita inferior a R$ 70 em agosto de 2010".

"Os dados trazidos pelas PNADs mostram que houve redução na renda per capita da população brasileira (passando de R$ 803,36 em 2014 para R$ 746,84 em 2015) e ingresso de 4,1 milhões de pessoas na pobreza sendo que, deste total, 1,4 milhão de pessoas ingressaram na extrema pobreza. Esses dados alertam para a necessidade das políticas públicas voltadas ao crescimento do emprego e da renda, sem deixar de lado o combate à desigualdade", informa ainda o documento.

O texto ainda ressalta que o "Índice de Desenvolvimento Humano Municipal do Brasil parou de crescer em 2015, mas ainda permanece na faixa de alto desenvolvimento humano, com 0,761".

Entre os motivos apontados pelos índices piores é o fato da crise econômica ter atingido fortemente a população naquele ano.

"O estudo analisa três dimensões - Longevidade, Educação e Renda - e constata que 'a taxa média de crescimento anual do IDHM entre 2011 e 2015 foi de 0,8%, inferior à observada entre 2000 e 2010, que foi de 1,7%'".

O Radar IDHM usa informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).


terça-feira, 15 de agosto de 2017

Uruguai questiona reforma trabalhista do Brasil e pede reunião especial do Mercosul


"Salário dos trabalhadores não pode ser a variável de ajuste para a competição nos mercados"


Chanceler Rodolfo Nin Novoa



O Uruguai decidiu pedir uma reunião do Mercosul para debater a reforma trabalhista encaminhada pelo governo Michel Temer, e aprovada pelo Congresso no mês passado. Montevidéu avalia que a reforma é um risco às regras de competitividade do bloco.

De acordo com agências internacionais, Uruguai está preocupado porque a reforma trabalhista brasileira seria "uma maneira de competir com base na retirada de direitos trabalhistas". O chanceler Rodolfo Nin Novoa em declarações divulgadas pela Presidência, afirmou que o governo do Uruguai sempre tentou evitar que isso acontecesse.

De acordo com o ministro, Uruguai pediu uma reunião especial de avaliação pelo Mercosul, composto ainda por Brasil, Argentina e Paraguai, no âmbito da Declaração Sócio-Laboral assinada em 2015. Para o Uruguai, a nova legislação brasileira "afeta os direitos dos trabalhadores e, por consequência, as regras de competitividade dentro do bloco."

“Vamos pedir uma reunião que está no âmbito da Declaração Sócio-Laboral, que estabelece que duas vezes por ano uma comissão administradora precisa se reunir”, adiantou Nin Novoa, acrescentando: "Não vamos imiscuir na legislação interna dos países, mas queremos marcar preocupações, porque assim vai ser bem difícil competir. O salário dos trabalhadores não pode ser a variável de ajuste para a competição nos mercados”, destacou.

A reforma trabalhista foi aprovada em meio a polêmicas e resistência por parte dos sindicatos, da própria Justiça trabalhista e até da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. A falta de diálogo com a sociedade, a precarização da segurança para o trabalhador e o favorecimento dos empregadores foram as principais críticas.



sexta-feira, 11 de agosto de 2017

'The Guardian': Por que falta de democracia da Venezuela tem mais repercussão que do Brasil?

The Guardian compara maduro a Michel Temer, com governo decadente, falência e falta de democracia


O jornal britânico The Guardian traz em sua edição desta sexta-feira (11) um artigo assinado por Julia Blunck, que compara a falta de democracia vivida na Venezuela com os últimos fatos que vêm acontecendo no Brasil. 

O texto aponta que o mundo inteiro fala sobre a questão da Venezuela. A imprensa britânica questiona Jeremy Corbyn, atual líder do Partido Trabalhista e líder da oposição na Câmara dos Comuns do Reino Unido: o presidente Nicolás Maduro será condenado?

Qual é a posição dele sobre a Venezuela e como isso afeta seus planos para a Grã-Bretanha?

Os problemas reais da Venezuela - um país complexo com uma longa história que não começa com o presidente anterior a Hugo Chávez e certamente não terminará com a intervenção de Jeremy Corbyn.

Isso não é nada novo: a maior parte do tempo, os debates da América Latina são vistos e comentados pelo ocidente.

Claro, a situação na Venezuela é deplorável e preocupante, afirma o Guardian. Mas é fácil ver que a preocupação com os abusos antidemocráticos de Maduro não vem necessariamente da preocupação real com o bem-estar dos venezuelanos.

O vizinho Brasil não foi analisado ou debatido extensivamente, mesmo que demonstre problemas semelhantes, destaca o diário.

O presidente do país, Michel Temer, escapou recentemente de medidas que o levariam a julgamento na Suprema Corte, fazendo com que o congresso os votasse.

O caso contra Temer não era frágil ou partidário: havia uma montanha de provas, incluindo gravações dele debatendo abertamente pagamentos de propinas com o empresário Joesley Batista. 

The Guardian observa que para um presidente colocado no poder sob circunstâncias que controversas, descritas como desonestas, consegue permanecer no poder ao comprar favores do Congresso, aprovando as medidas de austeridade mais severas do mundo, deveria ser suficiente para levantar uma série de questionamentos internacionalmente .

Mas isso não aconteceu, e o Brasil continuou como a maioria das histórias da América Latina: despercebidas e esquecidas.

Artigo argumenta que as histórias sobre acordos sórdidos do Congresso não são tão interessantes para o público estrangeiro, e até muitos brasileiros esgotados e desmoralizados achavam que isso era simplesmente outro complemento de uma longa lista de humilhações que começaram em 2015 quando a economia começou a afundar.

Enquanto isso, a Venezuela tem um conflito humano, o que produz fotos e reflexões emocionantes, suscita debate e, crucialmente, cliques em sites de notícias.

Há apenas tanta atenção a ser obtida falando sobre o enfraquecimento da democracia de Temer, como acontece sem barulho, através de articulações pelo poder tradicional do Brasil. A situação da Venezuela, no entanto, é urgente, com tanques nas ruas e prisões da oposição.

No entanto, existe uma explicação para o porquê a democracia do Brasil não ser tão interessante, e porque a introdução de militares de Temer nas ruas do Rio de Janeiro para abordar uma onda de crime provocou pouca resposta.

A regra de Temer é de um capitalismo duro e de um estado cada vez mais encolhido. Ele estabeleceu um teto sobre os gastos públicos, reduziu os direitos dos trabalhadores e impôs uma rígida reforma da idade de aposentadoria, aponta o noticiário, explica o periódico.

Para o Guardian ascensão de Temer ao poder veio quando ficou claro para os empresários que sua antecessora, Dilma Rousseff, não iria aprovar as medidas de austeridade que os beneficiam.

Eles financiaram e estimularam os protestos - em grande parte por brasileiros de classe média, com raiva, no que viram como corrupção generalizada - enquanto o Congresso bloqueava as contas de Dilma Rousseff e sabotou sua agenda de outras maneiras.

De alguma forma, porém, a conversa sobre a Venezuela é outra coisa. O sofrimento latino-americano está sendo um assunto para debates no Reino Unido.

Como os meios de comunicação da direita afirmam, Jeremy Corbyn parece não se importar muito com as milhares de pessoas famintas pela mão de Maduro - talvez ele também pense que é simplesmente uma conseqüência da intromissão americana - mas é difícil acreditar que o direito britânico esteja sinceramente comprometido com a estabilidade e democracia da região. Falou se muito pouco sobre Temer, avalia Guardian.

"As falhas de Temer não são, e não devem ser usadas como desculpa para os atos de Maduro. Nem devemos equiparar os dois homens quanto à sua brutalidade.

No entanto, se você mora no Brasil, onde os funcionários públicos estão desesperados por não serem pagos por cinco meses, onde os ativistas dos direitos indígenas e outros são mortos por agricultores ricos em números sem precedentes, onde vários estados declaram falência por causa de uma queda no preço do petróleo, onde o exército é chamado a enfrentar os manifestantes, você pode se perguntar quando sua situação valerá a pena ser debatida a nível mundial, como a Venezuela".

A resposta é sempre politicamente conveniente, diz a autora.

No final, os comentaristas e políticos britânicos, tanto da esquerda como na direita, não são apenas oportunistas quando se trata de sofrimento latino-americano, ficam satisfeitos quando acontece: prova seu ponto de vista, seja lá o que for.

Nossas vidas são apenas um detalhe, finaliza.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Entenda o que é o 'distritão'

Congresso estuda mudar sistema para escolha de deputados federais, deputados estaduais e vereadores.


A Comissão da Câmara que analisa a reforma política aprovou nesta quinta-feira (10) uma emenda que estabelece o chamado "distritão" para a escolha de deputados federais, deputados estaduais e vereadores. A comissão ainda não terminou de analisar essa proposta, que passará também pelo plenário da Câmara (votação em dois turnos) e pelo Senado. Mas vale entender como funciona o sistema atual e quais são as mudanças discutidas.

COMO É HOJE - Proporcional com lista aberta

Como funciona o sistema

O eleitor vota no partido ou no candidato.
Os partidos podem se juntar em coligações.
É calculado o quociente eleitoral, que leva em conta os votos válidos no candidato e no partido.
Pelo cálculo do quociente, é definido o número de vagas que cada coligação e cada partido terá a direito.
São eleitos os mais votados das coligações.

Efeitos de tipo de votação

Existem os "puxadores de votos", candidatos bem votados que garantem vagas para outros integrantes da coligação.
Exemplo de "puxador de voto": em 2010, o humorista Tiririca (PR-SP) recebeu 1.353.820 de votos, o que beneficiou candidatos de sua coligação. O último eleito da coligação, Vanderlei Siraque (PT), e o penúltimo, Delegado Protógenes (PC do B), obtiveram cerca de 90 mil votos cada um. Ficaram de fora candidatos de outras coligações que tiveram muito mais votos.
O sistema permite que as coligações e partidos levem para as casas legislativas candidatos com votações expressivas e também outros não tão conhecidos.
A renovação do Legislativo tende a ser maior, porque os votos na legenda e nos "puxadores de voto" ajudam a eleger candidatos menos conhecidos.
O foco de muitas campanhas fica nas propostas dos partidos, e não de candidatos individuais. Isso significa menos gastos.

COMO PODE FICAR - 'Distritão'

Como funciona o sistema

Cada estado ou prefeitura vira um distrito eleitoral.
São eleitos os candidatos mais votados.
Não são levados em conta os votos para o partido ou a coligação.

O que muda na prática

Torna-se uma eleição majoritária, como já acontece na escolha de presidente da República, governador, prefeito e senador.

Quais são os possíveis efeitos

O modelo acaba com os "puxadores de votos", candidatos bem votados que garantem vagas para outros integrantes da coligação.
O foco das campanhas tende a passar para os candidatos, fazendo com que os programas dos partidos e das coligações percam espaço.
Com o favorecimento das campanhas individuais, candidatos com mais recursos podem ser beneficiados.
Pode acontecer de apenas os candidatos mais conhecidos, como celebridades ou parlamentares que tentam a reeleição, conseguirem se eleger.
Com a eleição dos mais famosos, tende a ser mais difícil a renovaçãonas casas legislativas.
Pode ser mais difícil o surgimento de novos nomes na política também porque coligações e partidos deixariam de levar para as casas legislativas candidatos com votações menos expressivas.